sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Consulta de Psicologia - Associação Corações com Coroa


A Asssociação Corações com Coroa, fundada por Catarina Furtado, disponibiliza consultas de Psicologia!
É com orgulho e dedicação que fazemos parte deste projecto e contribuímos para a sua dinamização.


http://mulher.sapo.pt/atualidade/noticias/artigo/associacao-de-catarina-furtado-disponibiliza-consultas-gratuitas-de-psicologia


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Adolescentes com dificuldades: "culpa" da família?!


Muitas vezes deparamo-nos com jovens em dificuldades e, a acrescentar, com famílias, especialmente mães, que se sentem tremendamente culpabilizamos por isso.

A culpabilidade sentida e verbalizada pelas mães é ela própria contextual e como tal de natureza ecológica. As mães são desde os primórdios as figuras principais e aceites socialmente como as figuras que mais investem na protecção, educação e cuidado da descendência, ficando por isso também numa posição de maior responsabilidade pelas dificuldades que podem eventualmente ocorrer, ao longo do desenvolvimento dos filhos. Esta culpabilidade tornou-se mais relevante, e alvo de estudo, com as alterações culturais e sociais que levaram à integração da mulher no mercado de trabalho e à progressiva maior igualdade de sexos, a partir da qual as mães passaram a ter menos tempo dedicado à educação da sua descendência. Estas alterações são reportadas por muitas mulheres, como um elemento de perturbação pois frequentemente se sentem "divididas" entre responsabilidades e em "falta" para com a família.

Na adolescência, em que a rapidez e a complexidade das mudanças protagonizadas pelos filhos, se torna mais difícil de acompanhar e compreender, a emergência de pertubações nos jovens activa intensamente este sentimento de impotência e culpabilidade relativamente à falência da saúde mental destes, com uma associação clara entre estas dificuldades e as ausências, ou erros, que as mães nestas circunstâncias identificam em si mesmas (com ou até mesmo sem fundamento).

Esta é uma etapa de profundas transformações individuais, em vários vectores – cognitivo, físico, moral – e sociais, sobretudo no que respeita à relação com os pais e os pares. Nesta fase, os jovens têm como grande desafio, o desenvolvimento da sua autonomia e a construção de uma identidade estável, que contribua para a entrada na idade adulta de modo saudável e adaptado. Não podemos entender as problemáticas dos adolescentes (e, por vezes, das próprias famílias a lidar com estas transformações), sem ter em consideração as características gerais desta fase de vida.

Numa perspectiva ecológica, consideramos que as dificuldades ou problemas psicológicos não são exclusivamente individuais. Eles acontecem num contexto que inclui desde as características do indivíduo até às relações estabelecidas com outros sistemas proximais – a família, os pares, a escola – ou com sistemas mais distais – as normas sociais, os valores culturais e morais, etc. Assim, estes comportamentos de risco ou manifestações de dificuldade, não têm uma causa, ou um culpado, eles são o resultado de diversas variáveis que, em conjunto, concorrem para a perturbação. A educação é muito importante, o contexto em que se vive é muito importante, as características de personalidade são muito importantes. Mas, o mais importante é a forma como estas variáveis interagem no indivíduo e, também muito importante, num determinado momento do desenvolvimento.

Aqui, já estamos a considerar a perspectiva de desenvolvimento, que é em si mesma, ecológica. Nesta perspectiva, os comportamentos de risco ou psicopatologia, não são apenas considerados no seu contexto, eles são também analisados tem em conta a etapa do ciclo vital (individual e familiar) em que o paciente se encontra. Cada etapa de desenvolvimento sugere e impõe desafios diferenciais, transformações específicas e até alterações nas relações estabelecidas com os sistemas de interacção (como por exemplo, os já referidos: família, pares, escola). Se ter em consideração a etapa de desenvolvimento em que o paciente se encontra, é determinante, este aspecto é ainda mais crucial quando estamos a intervir com adolescentes (e suas famílias), pelas especificidades já referidas.

Alguns comportamentos de risco são, por exemplo, o abuso de álcool ou substâncias psicoactivas, já referidos, ou em jovens que revelam padrões comportamentais marcados por agressividade, revolta e incumprimento de regras e normais sociais. Nestes casos, como em outros que encontramos, julgo que o essencial é desmistificar esta questão da culpabilidade familiar. Obviamente o pai também sente culpa. Apenas sente-a de outra maneira, pelas diferenças sociais e culturais associadas ao papel da mãe e do pai, já brevemente mencionadas e sobejamente conhecidas.

O terapeuta deve ajudar a compreender as origens do sentimento de culpa, dando acesso a reflexões sobre o papel parental, as pressões sociais e familiares, as expectativas acerca dos filhos, que concorrem para este sentimento intenso e negativo. Por outro lado, e este aspecto tem-me parecido essencial quer em terapias familiares, quer em terapias individuais, importa sobretudo ajudar a reconhecer que encontrar culpados não só não faz sentido - pois existe uma multicausalidade e não uma causa linear - como não tem qualquer utilidade para a resolução do prolema, a recuperação da dificuldade ou o tratamento do distúrbio.

Ao enfatizar as competências e o papel positivo e activo da família na vida destes jovens, estamos não apenas a torná-la importante para a solução, em detrimento do seu papel no problema. Para os pais, perceberem e sentirem que fazem parte do tratamento dos seus filhos, que podem ajudá-lo de várias formas e contribuir para a sua recuperação, reforça a sua auto-imagem de figuras parentais cuidadoras, protectoras da sua descendência, tão importante para a auto-estima e bem-estar das mães e também dos pais. Mais ainda, "trazer" a família para a buscada solução pode contribuir para um reforço positivo das relações pais-filhos e devolver a aos primeiros a capacidade de exercerem a parentalidade com afecto mas também com regras e autoridade, algo que nestes casos, frequentemente já não estava a acontecer, ou estava a decorrer de uma forma pouco eficaz para a educação e desenvolvimento dos jovens.

DC

 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Afinal o que é uma psicoterapia - American Psychological Association

Quantas vezes nos perguntamos ou ouvimos os outros perguntarem o que é uma psicoterapia e em que é que fazer psicoterapia pode ser útil?

Neste artigo, da American Psychological Association, associação mundialmente reconhecida pelo ser rigor e relevância na prática da Psicologia Mundialmente, podem ler algumas informações importantes sobre o que é fazer terapia psicológica, para que serve e como pode ser bem sucedida.

Este artigo "chama" a nossa atenção para dois aspectos muito relevantes que habituam as nossas ideias "pré-feitas": a primeira de que a terapia é algo que o terapeuta impõe ao outro, sendo o paciente/ cliente um ser passivo; a segunda, remete para a ideia de que a terapia é para aqueles que têm doenças psicológicas, só e apenas.

Consideramos, e pessoalmente, faz-me mais sentido esta abordagem, que os pacientes são agentes activos: são eles quem melhor se conhecem e melhor saberão, com a ajuda do terapeuta, encontrar o caminho para o bem-estar.
Para além disso, a terapia não é apenas aconselhada e eficaz no tratamento de doenças psicológicas/ psiquiátricas formais. Como o artigo refere, a psicoterapia é indicada para pessoas que estão em fases do seu desenvolvimento individual e/ ou familiar consideradas difíceis de gerir, ou que sentem um mal-estar emocional e relacional que não conseguem controlar, impedir nem melhorar através dos seus esforços ou da ajuda daqueles que fazem parte da sua rede social. Nestas situações, a psicoterapia pode ser muito útil para o encontro de novas estratégias, soluções e perspectivas sobre os problemas e para o alívio desta sensação de mal-estar ou sofrimento.

Fica o link!

http://www.apa.org/helpcenter/understanding-psychotherapy.aspx

sábado, 1 de junho de 2013


Psi-clínica: Diálogos Soltos]: Consulta de Adolescentes


A Adolescência, em latim Adolescere foi um tema utilizado pela primeira vez na Roma Antiga, por Platão e Aristóteles, cerca do ano 193 A.C., e significando Crescer. A Adolescência representa uma etapa do ciclo de vida de transformações profundas em várias facetas – individual, familiar, social. O reconhecimento desta etapa enquanto estádio do ciclo vital contribuiu para o inundar do mundo artístico, sendo a Adolescência representada através da música e da pintura.
Esta etapa de desenvolvimento foi (é?!!) alvo de controvérsia e a própria investigação científica neste campo partiu de uma visão negativista da adolescência. Na verdade, partiu de uma visão “nula” da adolescência em que da infância havia como que um “ritual de passagem” directo à idade adulta. Só bastante tempo depois a Adolescência foi encarada como uma etapa de desenvolvimento, ainda que caracterizada segundo uma perspectiva negativa: turbulenta, instável, “difícil”, “problemática”. Com o crescente interesse pelo estudo do desenvolvimento, esta negatividade atenuou-se através do reconhecimento dos Adolescentes como seres competentes e altamente capazes de lidar com as inúmeras transformações que os desafios nesta fase de vida.
Actualmente, é aceite a ideia de que não existe Adolescência mas sim Adolescências (Sampaio, 2006), na medida em que os jovens manifestam estilos de vida muito próprios, padrões de comportamento e pensamento idiossincráticos que concorrem para a heterogeneidade desta etapa de vida e que representam, por sua vez, o fruto da influência marcada dos contextos proximais (e.g. família, escola) e distais (e.g. políticas educativas, cultura, valores e normas sociais) ao jovem.
O estudo da Adolescência em contexto permitiu aumentar os conhecimentos acerca da Adolescência e um maior enfoque nos processos de mudança e adaptação – no desafio em detrimento do problema.
Os esforços adaptativos que constituem esta etapa representam, contudo, um aumento dos níveis de stress que podem representar o perigo para as dificuldades ou a oportunidade para o crescimento. Neste ponto de viragem e dadas as características tão próprias dos Adolescentes, a consulta psicológica de adolescentes, deve ser “adaptada” a esta população, focando sempre os desafios de desenvolvimento que decorrem, as diversas formas de expressão emocional dos adolescentes. Descurar estes aspectos pode representar dificuldades acrescidas para o terapeuta que poderá sentir que o adolescente se distancia não ocorrendo uma boa adesão terapêutica e, consequentemente, vivenciar a frustração de conduzir um processo terapêutico ineficaz.
No que a isto diz respeito, enquanto técnicos de saúde mental devem considerar continuamente determinados aspectos: 1) um jovem vem habitualmente referenciado pelos pais, escola (em casos mais extremos, outras instituições como o tribunal) e não por sua livre vontade; 2) na adolescência, a pressão da identificação com os pares, em conjunto com a pressão social, concorrem para uma maior estigmatização do pedido de ajuda psicológica como algo destinado a pessoas “doentes” ou “incapacitadas”; 3) as razões que conduziram ao pedido de consulta associam-se geralmente a situações de fracasso (e.g. insucesso escolar, dificuldades na gestão emocional e de relações entre outras, as quais são difíceis, para o adolescente, de discutir com um estranho (o terapeuta!); 4) dada a etapa de vida em questão e importância do contexto no bem-estar ou nas dificuldades dos jovens, a participação da família no processo terapêutico é muito importante, o que nem sempre é bem aceite pelos jovens, que desejam criar um “espaço” de autonomia.
O estabelecimento de uma boa adesão terapêutica e, consequentemente, de uma relação de confiança entre o jovem e o terapeuta, implicam clarificar inicialmente falar dos obstáculos à participação dos pacientes e estabelecer as regras da consulta, tais como, o tempo da consulta, os da avaliação ou seguimento, o envolvimento da família e as questões da confidencialidade. O tema da confidencialidade é um ponto essencial em consulta de adolescentes. A fantasia dos jovens é a de que “tudo” será contado à família ou “nada” será contado à família. Nenhuma das versões está realmente de acordo com a realidade. A confidencialidade tem limites e aqueles que trabalham em clínica, sobretudo, com esta população, saberão o quanto esses limites e a transparência na importância que estes têm, determinam o sucesso terapêutico. O jovem deverá compreender que quando existem dilemas éticos é necessário que a confidencialidade seja equacionada e que tal não representa uma aliança com a família ou uma desconfiança face ao jovem, mas sim um “reforçar” da ajuda que pode ser necessária, sobretudo em situações mais graves como os comportamentos auto-destrutivos.
Neste ponto, enquanto terapeutas é também muito importante equacionar quando devem ser evitadas consultas a sós com a família, sem a presença dos jovens. No nosso entender, parece-nos que a consulta com a família é absolutamente essencial, e necessária (até porque estamos a falar de pacientes menores de idade), para o progresso terapêutico. Contudo, a ausência do jovem nas conversas com a família podem deixá-lo confuso quanto ao papel do terapeuta na intervenção (“afinal ele é o meu terapeuta ou o terapeuta da minha família?!”). Numa etapa de desenvolvimento marcada pelo investimento em movimentos centrífugos à família, este tipo de questões podem ser prejudiciais ao estabelecimento da relação de confiança ou vir a perturbá-la.
Reflectindo sobre o próprio terapeuta, o acompanhamento psicológico de jovens não pode permitir que sejam esquecidas as noções básicas de ética e profissionalismo. Os jovens apreciam (e exigem!) informação clara e concisa, um relacionamento adequado ao contexto de ajuda em que estamos e segurança no projecto terapêutico estabelecido. O terapeuta deve por isso, evitar uma postura paternalista e autoritária, substituindo-a uma atitude colaborativa, flexível (ainda que com regras claras!) e centrada no jovem, adequando a sua linguagem à linguagem do paciente sem personificar um “adolescente” que não é.
Os jovens, quando vão a uma consulta querem falar com um profissional e não com “um amigo”. O mesmo acontece com as famílias.


DC

  Referências:
Guerreiro, D., Cruz, D., Narciso, I., & Sampaio, D. (2009). Aspectos Particulares da Consulta Psicológica e Psiquiátrica em Adolescentes. Saúde Mental, XI(4), 29-41.
Sampaio, D. (2006). O conceito de adolescência. In Sampaio. D. (Ed.), Lavrar o Mar (pp. 17-25). Lisboa: Caminho.

DC em colaboração com  Psicologia Para Psicólogos     à(s)  Segunda-feira, Maio 27, 2013